TRATAR LESÕES É COISA DO PASSADO. A ONDA AGORA É EVITAR QUE ACONTEÇAM!
Já bastante utilizada no mundo dos esportes para avaliar os atletas, a termografia também é usada na indústria, mas esse uso era restrito a máquinas. Até agora. Como o foco da ergonomia é evitar que as pessoas adoeçam por esforços repetitivos ou mal executados, a FCA tomou a iniciativa de utilizar a técnica antes voltada para manutenção de equipamentos também para avaliar predisposição de funcionários a possíveis lesões. Esse uso, nos moldes da Indústria 4.0, é pioneiro no Brasil.
Além dos robôs grandalhões que fazem sozinhos o trabalho pesado, há também os pequenos robôs colaborativos, que auxiliam os trabalhadores lado a lado, os exoesqueletos, que aliviam as cargas e ajudam na postura, e outras tecnologias, como a realidade virtual, para adaptar as linhas de produção às condições mais favoráveis aos funcionários.
A termografia é capaz de fotografar no espectro infravermelho e, com isso, medir diferenças de temperatura. Por isso, é possível utilizá-la para fotografar pessoas, identificar predisposição a lesões e antecipar tratamentos. “Uma predisposição à lesão tem uma temperatura mais alta que o normal. Na termografia, a temperatura dá o alerta e, com isso, podemos agir preventivamente”, afirma o fisioterapeuta do Trabalho Izonel Fajardo, responsável pela ergonomia na FCA. A FCA é a primeira indústria no Brasil a adotar essa técnica com ênfase em saúde ocupacional.
Dentro do recém-inaugurado World Class Center, no Polo Automotivo Fiat, em Betim (MG, Brasil), existe o espaço do Ergo Lab, o Laboratório de Ergonomia da FCA. É ali que são analisados os termogramas dos 24 trabalhadores que participam do projeto piloto, iniciado em outubro de 2018. Os voluntários são avaliados de forma contínua, para que seja possível acompanhar o progresso das medições. São realizadas sessões fotográficas com uma câmera termográfica, no início da jornada de trabalho. A tecnologia permite avaliar vasos sanguíneos, tendões, músculos e inervações.
“Qualquer processo inflamatório nasce de cinco sinais flogísticos: calor, vermelhidão, edema, dor e perda de função. O aquecimento é o primeiro sinal”, diz Izonel. Com a termografia, é possível identificar o processo no início, pelo calor, antes de haver vermelhidão, edema (inchaço) e, principalmente, dor e perda de função. Ou seja, com esse método, é possível identificar indivíduos predispostos a lesões ou com lesões em quadros iniciais, mesmo que não haja nenhum sintoma aparente. Assim, trabalhadores podem ser encaminhados para tratamentos preventivos, de modo que o processo inflamatório não avance. “As pessoas avaliadas não têm nenhuma queixa, não têm nenhum sinal”, diz Izonel. “Mas algumas têm predisposição, que é o que queremos identificar”. É a ergonomia do futuro.
Quando alterações são identificadas nos trabalhadores, eles podem, por exemplo, receber mais aulas posturais ou ser realocados para diferentes funções, ainda que temporariamente, para evitar a inflamação. Dependendo do caso, podem iniciar revezamentos ou fisioterapia preventivos. Mas as próprias linhas de montagem já são construídas para se adequar à ergonomia. “No planejamento de uma linha para o início de produção de um novo modelo, a ergonomia avalia, previamente, se existe algum potencial de risco e a necessidade de alguma intervenção, como aumentar a altura da linha ou adicionar um braço mecânico, por exemplo”, Izonel explica.
“Cada vez mais, nós buscamos mecanismos para melhorar o conforto e a segurança das pessoas no ambiente de trabalho”, afirma. E o projeto tem dado certo. “Resultados preliminares indicam que o método tem potencial e pretendemos expandir sua aplicação em outras plantas da FCA na América Latina”, anuncia Izonel.